Amanhã realiza-se a Feira Medieval,
em Coimbra. Na impossibilidade de poder estar presente deixo aqui a minha
homenagem a essa época tão importante para a nossa Literatura.
Sabia que… a poesia Trovadoresca começou a
noroeste da Península Ibérica, entre os séculos XII e XIV, era feita por
Trovadores e Jograis e é a nossa mais antiga forma de Literatura?
Se não
sabia, ou se já soube e esqueceu, recorde agora:
POESIA TROVADORESCA
Cantiga de Amigo
“Como vivo coitada, madre, por meu amigo,
ca m’enviou mandado que se
vai no ferido:
e por el vivo coitada!
Como vivo coitada, madre, por meu amado,
ca m’enviou mandado que se
vai no fossado:
e por el vivo coitada!
Ca m’enviou mandado que se vai no ferido,
eu a Santa Cecília de coraçon o digo:
e por el vivo coitada!
Ca m’enviou mandado que se
vai no fossado,
eu a Santa Cecília de
coraçon o falo:
e por el vivo coitada!
Martin de Ginzo ou de Grijó
(CV 876,CBN 1219)
Síntese do
conteúdo ideológico:
Nesta “Cantiga de Amigo”o sujeito poético (uma jovem) expressa a sua grande tristeza pelo facto do seu namorado (“amigo”) lhe ter enviado um recado (“enviou mandado”) informando-a de que é obrigado a ir numa expedição militar(“fossado”) para combater contra o inimigo.
Esta informação é importante como
documento histórico, pois revela-nos uma caraterística da época a nível
político: a ida para o “fossado” que corresponderia ao atual serviço militar.
A confidente escolhida pela jovem
para os seus desabafos íntimos é a sua
mãe(“madre”) que é informada da intenção da filha de ir fazer uma promessa a
Santa Cecília, para que proteja o seu namorado (“eu a Santa Cecília de coraçon
e digo…de coraçon o falo”).
É uma poesia simples onde as mesmas
ideias se desenvolvem ao longo das quatro estrofes, com ligeiras alterações de vocabulário,
substituído por sinónimos.
As estrofes são formadas por um
dístico (dois versos) seguidos de refrão, o que é uma das caraterísticas deste
tipo de poesia.
Salienta-se também a utilização de
anáforas (repetição de palavras no início dos versos); do ponto de exclamação,
que transmitem a emotividade da jovem, o seu sofrimento amoroso, a tristeza
pela ausência do namorado.
Hoje, e na sequência da semana passada, vou publicar uma “Cantiga de Amor”, também da época medieval.
Cantiga de Amor
Vi eu donas, senhor, en cas d’el rei,
Joan Airas de santiago(CV 534,CBN 890)
Síntese ideológica
O poeta dirige-se à sua amada, (identificada através da apóstrofe “ senhor ” e “minha senhor”), dizendo-lhe que viu muitas mulheres na corte ("em cas d'el-rei"), umas casadas (“donas” e outras solteiras “ donzelas”) e que, comparada com essas mulheres, ela é a mais bela de todas.
marfer535@gmail.com
Na semana passada, a propósito da Feira Medieval, lembrei-me de publicar um poema medieval (Cantiga de Amigo).
Aberto este precedente ponderei a hipótese de ir fazendo, de vez em quando, uma “visita” à nossa Literatura ao longo dos tempos, até chegar à atualidade!
Assim, poderemos ir apreciando a evolução da Língua Portuguesa até ao atual e polémico acordo ortográfico.
Pretendo algo simples e apenas com uma publicação para cada escritor.
Hoje, e na sequência da semana passada, vou publicar uma “Cantiga de Amor”, também da época medieval.
Apresento uma breve explicação já que o vocabulário, por vezes, é difícil de decifrar!
Cantiga de Amor
Vi eu donas, senhor, en cas d’el rei,
Fremosas e que pareciam bem
E vi donzelas muitas u andei
E, mha senhor,direi-vos ua ren:
a mais fremosa de quantas eu vi
long’estava de parecer assi
Come vós; e muitas vezes provei
se veeria de tal parecer
algua dona, senhor, quero-vos al dizer:
a mais fremosa de quantas eu vi
long´estava de parecer assi
Come vós; e, mha senhor, preguntei
por donas muitas, que oí loar
de parecer, nas terras u andei,
e, mha senhor, pois mh´as foron mostr a mais fremosa de quantas eu vi
long’estava de parecer assi.
Joan Airas de santiago(CV 534,CBN 890)
Nota: na época a palavra “ senhora” escrevia-se “ senhor”
Ren= coisa
Síntese ideológica
O poeta dirige-se à sua amada, (identificada através da apóstrofe “ senhor ” e “minha senhor”), dizendo-lhe que viu muitas mulheres na corte ("em cas d'el-rei"), umas casadas (“donas” e outras solteiras “ donzelas”) e que, comparada com essas mulheres, ela é a mais bela de todas.
O facto do poeta mencionar que tanto ele como as mulheres que viu, frequentavam o palácio, revela que pertenciam à corte.
marfer535@gmail.com
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